A EDUCAÇÃO PÚBLICA ESTADUAL E A CAIXA DE PANDORA - Tadeu Alencar Arrais

10/07/2011 12:00

       

        Os sintomas são inequívocos e os sinais estão em todas as latitudes. Na TV, um programa dominical de audiência nacional destacou o descaso com a merenda em escolas públicas goianas. Na internet circula texto de um professor da rede pública estadual denunciando o fechamento de laboratórios de informática, ciências, línguas etc. Nos consultórios médicos multiplicam-se os pedidos de afastamento de professores por motivos de saúde que vão de doenças no sistema nervoso aos já conhecidos problemas gástricos. No curto intervalo das aulas, diante de seus pares, não é incomum encontrar professores relatando situações intimidação. Ao conferir o seu soldo, no início do mês, o professor acometido por tais intempéries, percebe que recebeu apenas 80% do seu parco salário. Considerando todos os sinais, poderíamos supor que tal professor abriu a caixa de Pandora. Mas nem todos pensam assim.

        Ao que parece, coube ao Secretário da Educação do Estado de Goiás, enterrar, de uma vez por todos, os males que acometem a rede publica estadual de educação.  O principal deles, que podemos deduzir da leitura de vários artigos opinião de sua autoria, tem relação direta com a capacidade de gestão e da pouca eficiência da administração pública, visão que mescla doses otimismo ingênuo e pragmatismo político.  O otimismo resulta de uma visão de que os problemas da educação podem ser resolvidos nas escalas intermediárias da gestão, não por acaso essa palavra seja tão recorrente nas publicações do Secretário. O pragmatismo o faz acreditar que a solução será rápida, bastando apenas adotar princípios do planejamento estratégico, cujos exemplos mais criativos gravitam em torno de uma agenda de avaliação regular dos alunos, remuneração docente medida pela eficiência e qualificação dos diretores. Na verdade, receita de otimismo e pragmatismo funciona como álibi para ocultar uma realidade bastante conhecida pelas comunidades escolares. Não é preciso visitar em comitiva as centenas de escolas goianas para comprovar a situação de penúria. De igual forma, de pouco adianta viajar pelo mundo na cata de experiências que só enriquecem a retórica política. A solução é simples e passa por duas ações demasiadamente conhecidas: 1) política salarial que permita ao professor, para além do consumo diário de proteínas, usufruir de bens culturais e atividades de lazer – difícil pensar que isso ocorra quando observamos, por exemplo, as reticências diante da adoção do piso nacional em Goiás. 2) melhoria na infraestrutura escolar, o que implica em salas de aulas com ventilação, quadros adequados, cadeiras e mesas para o professor, equipamentos de projeção, computadores, bibliotecas, laboratórios etc. Essa receita não é nova e certamente professores e alunos de escolas finlandesas dispõe de condições objetivos para realização do processo pedagógico infinitivamente superiores que as escolas estaduais goianas – talvez por isso sejam o que são, afinal existem predicados preliminares para que possamos exigir eficiência.

        O autor do livro Educação: o desafio de mudar apresenta uma reflexão sobre a educação como projeto atrelado ao desenvolvimento do estado de Goiás. Mas a pergunta não é o que o futuro nos reserva, mas sim os motivos pelos quais o presente ainda nos aprisiona. Enfim, a caixa de Pandora foi aberta e não faltam candidatos movidos por boas intenções para fechá-la. A maioria deles, entretanto, fecha a caixa apressadamente, deixando lá no fundo, na escuridão, aquele pobre professor, contanto o seu soldo e esperando os dias melhores, mesmo que venham de um déspota esclarecido – e candidatos não faltam.

Tadeu Alencar Arrais
Doutor em Geografia pela UFF/RJ
Professor adjunto do Instituto de Estudos Socioambientais
da Universidade Federal de Goiás