A CICLOMOBILIDADE NEGLIGENCIADA EM GOIÂNIA - João Paulo Fonseca Peres
A ciclomobilidade é em primeiro lugar uma prática de resistência! No campo conceitual e das ideias é algo relativamente recente e, que está a ganhar força no Brasil e no mundo. É mister ressaltar, que a exemplo do conceito de mobilidade urbana, não há ainda um consenso quanto a uma definição exata do que seja a ciclomobilidade.
Autores como Bastos, Mello e Silva (2017), consideram a “ciclomobilidade como ferramenta de solução marginal dos problemas de mobilidade urbana por meio do uso da bicicleta”. De acordo com Gehl, (2015, p. 107) as cidades que estimulam a ciclomobilidade e que “realizam investimentos em infraestrutura cicloviária, concomitantemente aumentam a mobilidade da grande maioria de seus habitantes e reduzem o impacto sobre o meio ambiente”. O autor cita os exemplos de Copenhague, Amsterdã e Bogotá, cidades que são exemplos bem sucedidos de promoção da ciclomobilidade.
Num primeiro momento pode-se considerar que a ciclomobilidade é o oposto da automobilidade! Enquanto o primeiro modelo orienta-se pelo princípio da responsabilidade ambiental, promove a ampliação da autonomia e da cidadania (singularmente das pessoas mais pobres), assegura a equidade nos deslocamentos espaciais e engendra novas relações sociais, como destacou o geógrafo Ab’Saber (2007), o segundo modelo, orientado pela automobilidade, representa o ideal individualista das sociedades modernas e acaba por conflitar com a circulação das pessoas e sua segurança nas vias públicas.
A ciclomobilidade envolve a utilização da bicicleta como um instrumento fundamental de locomoção do indivíduo durante o seu deslocamento espacial pela urbe, contudo, deve-se ressaltar que a maior eficiência da ciclomobilidade depende de uma relação de intermodalidade com outros modais de transporte, principalmente com os transportes públicos coletivos (TPC’s).
Promover a valorização da bicicleta como meio de transporte no espaço urbano e criar condições para a consolidação de espaços destinados à ciclomobilidade é uma das formas de ampliar a cidadania das pessoas condicionadas a uma situação de imobilidade espacial e também é um mecanismo para se atingir um amplo direito à cidade.
Todavia, observa-se que historicamente as políticas públicas voltadas à mobilidade urbana em Goiânia priorizaram o automóvel como principal opção de locomoção para a população, o que resultou em inúmeros impactos ambientais e sociais e, igualmente acentuou uma marcante desigualdade socioespacial na sociedade goianiense contemporânea, entre os motorizados e os não motorizados.
Destarte, a prioridade dada aos automóveis resultou na falta de atenção e de investimentos em infraestruturas destinadas a outros meios de transporte, como a bicicleta.
Atualmente, Goiânia possui uma infraestrutura cicloviária composta por um conjunto incipiente de ciclovias, ciclofaixas, ciclorrotas, bicicletários, paraciclos, estações de bicicletas compartilhadas e uma cicloponte. Todavia, parte dessa malha cicloviária goianiense é regulada pelo poder público municipal e sua utilização é permitida apenas aos domingos e feriados no período de 7 às 18 horas.
Pode-se afirmar que o estado atual dos elementos fixos destinados à circulação das bicicletas na capital goiana está distante de um padrão ideal e não chega a converter-se em uma rede.
É algo comum no espaço urbano hodierno de Goiânia, deparar-se constantemente com o surgimento de novos elementos fixos que conduzem a manutenção do padrão de mobilidade urbana vigente, ou seja, reafirma-se a ampliação da malha viária a partir da construção de novas ruas, o aumento das áreas de estacionamento e a construção de pontes e viadutos para favorecer o escoamento do tráfego de veículos motorizados em detrimento da circulação dos que optam pelos modos de transporte ativos como o pedestrianismo e o ciclismo.
Figura 1: Placas expressam a restrição a circulação dos modos de transporte ativo no túnel da avenida Araguaia no centro de Goiânia. Fonte: J.P.F. Peres (27/12/2018)
Nesse sentido, devemos questionar: o atual modelo de mobilidade urbana goianiense, centrado na valorização do uso do automóvel, é o ideal? Esse paradigma de mobilidade contribui com a promoção da equidade no espaço urbano goianiense? O que impede a expansão da malha cicloviária em Goiânia? Por que não há maior conectividade entre a malha cicloviária goianiense? Por acaso as bicicletas tornam o trânsito mais perigoso?
Referências
AB’ SABER, Aziz Nacib. O papel social das bicicletas. SCIENTIFIC AMERICAN Brasil. Edição 67 - Dezembro 2007.
BASTOS, Antônio Fagner da Silva; MELLO, Sérgio Carvalho Benício de; SILVA, Cedrick Cunha Gomes. Dimensões do espaço urbano para a ciclomobilidade: uma análise a partir do discurso de uma associação cicloativista. Revista Movimentos Sociais e Dinâmicas Espaciais, Recife, V. 06, N. 01, 2017 (70-87)
GEHL, Jan. Cidades para pessoas. Tradução: Anita Di Marco. 3ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2015.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. Itapevi, SP: Nebli, 2016.
João Paulo Fonseca Peres
Geógrafo, professor do Colégio Claretiano e mestrando pelo IESA/UFG.
E-mail: jpgeografo@gmail.com
Ficha bibliográfica:
CARRERA, Marti Boneta I. LAS VICISITUDES DE UNA MODERNIDAD DUAL. Memorias de las colonias a Capdella del Maestro Artur Martorell (1917 – 1918). In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.9, n.11, 19 de fevereiro de 2019. [ISSN 22380-5525].
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CARRERA, Marti Boneta I. LAS VICISITUDES DE UNA MODERNIDAD DUAL. Memorias de las colonias a Capdella del Maestro Artur Martorell (1917 – 1918). In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.9, n.11, 19 de fevereiro de 2019. [ISSN 22380-5525].
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CARRERA, Marti Boneta I. LAS VICISITUDES DE UNA MODERNIDAD DUAL. Memorias de las colonias a Capdella del Maestro Artur Martorell (1917 – 1918). In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.9, n.11, 19 de fevereiro de 2019. [ISSN 22380-5525].
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Ficha bibliográfica:
CARRERA, Marti Boneta I. LAS VICISITUDES DE UNA MODERNIDAD DUAL. Memorias de las colonias a Capdella del Maestro Artur Martorell (1917 – 1918). In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.9, n.11, 19 de fevereiro de 2019. [ISSN 22380-5525].
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Ficha bibliográfica:
PERES, João Paulo Fonseca. A CICLOMOBILIDADE NEGLIGENCIADA EM GOIÂNIA. In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.9, n.11, 5 de março de 2019. [ISSN 22380-5525].