ARTES, GEOGRAFIA E EDUCAÇÃO - Marquessuel Dantas de Souza
Criança Geopolítica Assistindo ao Nascimento do Novo Homem, Salvador Dalí, 1943, Óleo sobre tela, 45,5 x 50 cm (UNIVERSIA, 2012)
O presente texto apresenta de forma breve uma reflexão preliminar sobre o estudo das Artes no contexto das aulas de Geografia. Como um todo, aponta para uma direção em que Artes e Ciência formam uma parceria inteligível para interpretar o mundo que nos circunda efetivamente. A proposta em elaborar arte junto às aulas de Geografia torna-se um meio de apreender o espaço geográfico de uma maneira mais simples e, por assim dizer, divertida no processo de alfabetização. A prática educativa por meio das artes nas aulas de Geografia possibilita uma melhor compreensão do viver. O estudo da Geografia a partir das obras de artes é uma oportunidade singular, do ponto de vista filosófico-pedagógico, para contextualizar conteúdos geográficos no e do cotidiano tanto dos alunos quanto da própria escola. Isto, com o intuito de fazer com que os próprios estudantes (discentes) despertem seus interesses em relação aos estudos em geral e não apenas em relação à Geografia. Do mesmo modo, apresenta-se como uma tentativa de incentivá-los a analisar, a observar com um olhar geográfico diferentes paisagens que constitui o mundo. No processo de ensino-aprendizagem para além da relação mestre-aprendiz, trona-se útil valorizar na abordagem envolvendo Geografia e Artes o conteúdo concreto do dia-a-dia, da realidade do educando, buscando mostrar os enlaces que os rodeiam. Por conseguinte, entende-se que por meio deste estudo conjunto entre Artes e Geografia as aulas de Geografia não sejam desestimulantes. Tornem-se dinâmicas, interessantes e prazerosas a todos que desejam aprender. Assim sendo, intenta-se por mostrar brevemente o valor significativo de se trabalhar com o auxílio das Artes nas aulas de Geografia. Uma aventura ainda carente de intensa exploração por parte dos educadores. Com efeito, o proposto permanece como algo preliminar em relação ao que se pretende desenvolver sistematicamente mais adiante. Uma vez que as evidências apresentadas são apenas breves posicionamentos críticos-filosóficos sobre o nosso modo de ler, interpretar e decifrar o mundo; uma espécie de estética geográfica. Uma perspectiva didática para enriquecer o conhecimento do mundo que nos circunda.
É tecendo as linhas magistrais da percepção do mundo vivido que as artes se confluem com a Geografia. A literatura, a música, a pintura, a escultura, o teatro, a arquitetura, bem como o cinema imprimem lugares, paisagens e territórios de temporalidades outras que atravessam a perspectiva geográfica do ser e do estar-no-mundo (no sentido heideggeriano). As imagens - em sentido amplo - estão entrelaçadas no discurso geográfico como uma prática de análise do espaço em si, demonstrando um universo experienciado e ainda em experimentação na práxis do sujeito no mundo. A capacidade de produzir arte faz parte daquilo que torna o homem único perante todos os outros seres vivos (espécies animais animados) que ocupam o planeta terra. A convergência da arte na abordagem geográfica, bem como a análise geográfica convergente no campo da arte nos revela particularidades recíprocas que, grosso modo, devemos chamar tal proximidade de uma intrínseca Geografia Artística configurando-se numa Arte Geográfica preponderantemente. Fazendo e sentindo, em suma: vivendo.
A Geografia por meio das Artes resgata o valor estético embutido no imaginário das pessoas e considera a capacidade intelectual como um recurso de aproximar ainda mais o Homem ao Meio que o faz, inseparável deste meio que lhe mantém ativo. Uma noção de intensificar ainda mais o simbólico das artes na produção e reprodução da vida humana. Portanto, é nesta relação que podemos observar uma situação filosófica agindo majestosamente: a ontologia. Entra em cena a questão ontológica tão cara ao homem. Quer dizer, um aluno concentrado em apenas elaborar seu trabalho de pesquisa conjuntamente e investigando tudo que lhe diz respeito naquele momento de autoeficiência demonstra-nos que o valor epistemológico transborda-o ontologicamente no ser-em-ação: o homem. Tudo contribuindo em seu favor, uma espécie de transvaloração de todos os valores no sentido nietzschiano do termo. Em uma palavra, através da arte nos transcendemos.
Arte como ciência e ciência como arte constituem movimentos necessários de expansão dos experimentos do mundo. Neste contexto devemos ter em mente que necessitamos utilizar as artes no discurso geográfico sempre para enriquecê-lo ainda mais e que as artes em si não se constituiriam sem uma geograficidade que lhe pertence. Não obstante, o mundo é um observatório estético-transcendental (no sentido kantiano). A arte surpreende o próprio homem. Portanto, a Geografia deve estar aberta para o mundo assim como o mundo lhe constitui. Uma ação na emergência do estar-aí-no-mundo: somos.
Marquessuel Dantas de Souza
Licenciado em Geografia pela Faculdade de São Paulo
e integrante do Grupo de Pesquisa Geografia, Literatura e Arte (Geoliterart) da USP.
Ficha bibliográfica:
SOUZA, Marquessuel Dantas de. Artes, Geografia e Educação. In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, vol. 7, nº. 9, 15 de setembro de 2017. [ISSN 22380-5525]