DESENVOLVIMENTO RURAL NA PERSPECTIVA DO TURISMO - Ludimila de Miranda Rodrigues & Vagner Luciano de Andrade

21/05/2013 17:20

 

A contemporaneidade com suas benesses e mazelas criou uma reconfiguração social, ambiental, cultural e econômica do espaço rural de certa forma alarmante. Neste contexto, evidenciam-se aspectos da “mercantilização" do espaço agrário, como a exploração dos recursos naturais e valores culturais com fins econômicos. Nas últimas décadas ocorreram grandes transformações institucionais e técnicas na América Latina e Caribe, porém sem mudanças sociais significativas. Com o advento da grande agroindústria, a produção agrícola se modernizou crescendo para fins de exportação, porém a produção de alimentos para o abastecimento interno continuou dependente dos pequenos e médios agricultores, pressionando-os a inserir-se nesse sistema mercantilista.

No Brasil e no mundo são inúmeros agricultores que operam em estabelecimentos com área limitada e problemas financeiros devido às dificuldades de inserção econômica da agricultura familiar no competitivo modelo agropecuário capitalista. Portanto, em decorrência das políticas de desenvolvimento adotadas pelos países, um fato está cada vez mais freqüente: a extinção da pequena propriedade, principalmente do tipo familiar, decorrente do êxodo de milhões de trabalhadores rurais para as grandes cidades.  Os municípios são diretamente afetados pelo êxodo rural, e muitos acabam entrando em crise socioeconômica mediante a diminuição da população rural local, queda na produção agrícola e, portanto, decrescente arrecadação de impostos.

Por outro lado, os municípios que “recebem” esses trabalhadores acabam apresentando, por sua vez, diversos problemas sociais, relacionados à grande quantidade de migrantes, não estão preparadas para receber. Pelo menos quatro problemas se intensificam com a migração proporcionada pelo êxodo rural: a degradação socioambiental; a exclusão social; a decepção e alienação; e a submissão do campo à cidade.

Além do desemprego, a migração descontrolada causa outros problemas nas grandes cidades ao aumentar em grandes proporções a população “amontoada” na periferia urbana. O patrimônio ambiental (solos, água, biota) passa a ser constantemente utilizado de forma predatória, desrespeitando a capacidade de suporte do mesmo e resultando em inúmeros problemas ambientais e sociais. Os bairros carentes, longe dos centros locais, são os mais prejudicados pelas consequências desse fenômeno, apresentando hospitais superlotados e escolas sobrecarregadas, por conta do excesso de alunos por sala de aula. Os empregos não são suficientes e muitos migrantes partem para o mercado de trabalho informal, passando a residir em habitações irregulares, como favelas e cortiços, na maioria dos casos sem direito a condições dignas de vida. Tal panorama reflete dessa forma a ampliação dos índices de dominação, exploração e inserção dos camponeses nas problemáticas das periferias urbanas. Visando “grandes oportunidades” oferecidas pelas cidades, como empregos, faculdades e diversão, a população jovem é a mais afetada. Assim, os jovens camponeses vislumbram os atrativos dos grandes centros urbanos, criando fantasias que serão posteriormente transformadas em frustração e exclusão.

Há ainda aquelas comunidades rurais que visualizando nas atividades urbano-industriais uma oportunidade de melhoria de condições de vida, se inserem como forma de mão-de-obra barata em tais processos, que na maioria dos casos passa a impedi-los de exercer sua cotidianidade. Famílias passam a dedicar-se apenas a essas atividades, muitas vezes realizadas no ambiente do lar, deixando de exercer o seu patrimônio cultural rural, para proporcionar a manutenção do crescente consumo da sociedade urbano-industrial.

Na contramão do processo, um novo elemento socioeconômico, o turismo se insere no panorama rural, como atividade relevante na melhoria das condições de vida dos agricultores familiares, que diversificando suas formas de trabalho amplia níveis de emprego e renda. Como qualquer outra atividade potencialmente estimuladora do espaço rural, o turismo apresenta potenciais de fixar o homem no campo, resignificando sua gama de serviços e produtos, ampliando suas condições de produção, geração de renda, preservação do patrimônio cultural e desenvolvimento local. Assim, o turismo vinculado à agricultura familiar auxilia na permanência do núcleo familiar na unidade de produção agropecuária, reforçando as aspirações e convicções dos agricultores de viverem no meio rural. Além do mais, rompe com perspectivas de isolamento das populações tradicionais do campo permitindo intercâmbios e trocas significativas do ponto de vista cultural, social, político e econômico.

Com essa perspectiva, o produtor rural recebe experiências e compartilha “saberes e fazeres” que reforçam e valorizam a diversidade cultural particulares de cada região. É importante, porém, destacar que a atividade turística estimula e amplia produtos, serviços e experiências, potencializando assim a agricultura familiar, mas apresenta limitações de tempo e espaço.  O turismo é uma atividade essencialmente humana e, como tal, tem seus lados positivos e negativos. Hoje, o modo de produção dominante exige que a população tenha consciência da sustentabilidade como elemento inerente à preservação e valorização de seu meio ambiente. Assim faz-se indispensável o turismo que seja pensado numa perspectiva de planejamento estratégico sustentável acompanhado de situações constantes de monitoramento e avaliação. Deve ser pensado e planejado para não descaracterizar e destruir a paisagem, nem desviar a identidade e os interesses existenciais das comunidades camponesas, visando inibir, minimizar ou anular seus efeitos e danos nocivos, ou não, aos ambientes culturais e naturais nos quais se estabelece.

Assim, o objetivo do planejamento público de turismo é organizar e direcionar as prioridades das regiões com propostas implantadas, de forma que a atividade turística constitua-se verdadeiramente uma alternativa econômica geradora de emprego e renda, principalmente para a população local. Quando as atividades turísticas e empreendimentos (como restaurantes, pousadas e pesque-pagues) estão localizados em regiões que detêm um número regular de visitantes, uma boa infraestrutura básica instalada, com sistema de transporte adequado, eles tem maiores chances de se tornarem auto-sustentáveis e assim prosperarem conjuntamente às comunidades adjacentes. É indispensável então que o turismo rural seja pensado e planejado, sustentavelmente para que a região se consolide como uma boa rota para os turistas. O turismo tendo como base o respeito ao ambiente e à cultura do lugar atenua as desigualdades sociais, exigindo que as comunidades locais se conscientizem de seus valores e façam prevalecer seus interesses na construção de um futuro melhor.

Ludimila de Miranda Rodrigues

Geógrafa e mestranda em Geografia pelo Programa de Pós-graduação em Geografia
pelo Instituto de Geociências da UFMG (Área de concentração: Organização do Espaço).
E-mail: ludimilarodrigues86@gmail.com

 

Vagner Luciano de Andrade

Bacharel/licenciado em Geografia e Análise Ambiental, mestrando em Direção e Consultoria Turística
(área de concentração em Turismo Sustentável) pela Universidad Europea Miguel de Cervantes (Espanha).
E-mail: trezeagosto@yahoo.com.br

 

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Ficha bibliográfica:

RODRIGUES, Ludmila de Miranda; ANDRADE, Vagner Luciano de. Desenvolvimento rural na perspectiva do Turismo. In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.3, n 4, 20 de maio de 2013. [ISSN 22380-5525].