ENQUANTO OS OLHOS ESTIVEREM ABERTOS - Júlio Cesar Pereira Borges

20/01/2012 12:00

 

    Em uma conversa, meu amigo Eguimar disse que a sabedoria consiste numa recorrente negociação. O primeiro negócio nasce de uma conversa séria de si consigo mesmo. Dessa conversa deve nascer princípios, metas, poemas e decisões. A partir daí chega-se ao mundo. Segundo ele é necessário saber escutar a voz do mundo; lutar a favor do mundo - contra o mundo. A voz do mundo é ideológica, perniciosa, estranha – e também dadivosa.

    Imbuído do assunto, parti para uma conversa direta com o mundo. Indaguei-o:

    - Senhor mundo, o que queres de mim? O que tem a me dizer?

Ele me respondeu:

    - Pois bem meu caro Julião, primeiramente quero lhe parabenizar pelos 40 anos, os quais lhe transformou num sujeito contraditório como eu. Agora você entende que não existem certezas, que os ganhos também são perdas, que os segredos do passado não interessam mais, que o amor e a felicidade não é um fim - vão e vem como um Trem que se quer  bem - e que a vida é tão complexa que chega a não ter sentido. E tão simples que chega a ser incompreensível. 

    Ainda me disse: - Julião, daqui para frente as alegrias não serão eufóricas e as dores serão mais brandas. Entenda que elas virão, no entanto, entenda-as. Seu corpo e sua mente serão contraditórios, mas os desejos serão eminentes. A ternura lhe será uma companheira...

    Outra coisa – continuou dizendo o Senhor Mundo - você precisa de dinheiro, não têm filhos, mas as casas de idosos que lhe propiciará o mínimo de conforto serão caras.

    - Cuide-se, eu estarei à espreita.

    Atento lhe respondi: -  tudo bem, agradeço pelo que me fez até aqui. Embora por muitas coisas que você me aprontou, você me deve desculpas. Estou satisfeito com a nossa parceria, até então me sinto realizado, embora você insista em manter-me longe da Débora Secco. Por outro lado, me concerne o direito de conviver com grandes amigos do passado, e que serão eternos. Daqui em diante, meu chapa, temos um longo caminho pela frente, sei o que queres de mim, concordo e vou tentar. Não lhe prometo nada, vai que nos estranhamos.

    -Valeu, até segunda, nesse fim de semana estarei em outro mundo...

    Na vida temos tudo e levamos tudo, enquanto os olhos estiverem abertos...

 

Júlio César Pereira Borges
Mestre em Geografia pela UFG e professor titular da Faculdade de Ciências
Humanas de Anicuns e efetivo do curso de Geografia da UEG-Iporá.