ESCOLA, MOSTRA A SUA CARA. QUEM PAGA PRÁ VOCÊ SER ASSIM? - Avacir Gomes dos Santos Silva

10/02/2012 12:00

   

No espaço das escolas da rede pública estadual de Rondônia o Projeto Político Pedagógico (PPP) ao longo de duas décadas tem sido conclamado como o fio de Ariadne, que conduz a educação por caminhos seguros frente o emaranhado das políticas públicas e das demandas atuais da sociedade.

A priori o PPP não é nada mais, nada menos que a carteira de identidade da escola. Construir a identidade da escola é definir sua filosofia, sua visão de mundo, o aluno que pretende educar, bem como o profissional que irá realizar essa surpreendente tarefa.  Vejam bem, o ideal é educar e não formar.  Formar é o ato de colocar em forma, moldar a matéria e dar forma. Os alunos formados são os que foram enquadrados e encaixotados para aceitação, acomodação e preguiça intelectual.

Esses são alguns dos enigmas que os educadores terão que desvendar, pois eles marcam a essência do projeto e o comprometimento da escola frente a duas políticas: a corroboração ou a transformação do projeto de sociedade que vivenciamos no cotidiano das relações sociais e de poder.

Se a opção da escola for pela primeira alternativa, como diz o provérbio: tudo permanece como dantes no quartel de Abrantes. Caso contrário o trabalho será árduo, muito árduo! Pois a busca da transformação social implica andar na contramão da história e, essa atitude requer a consciência de que as transformações nas relações sociais vivenciadas na escola e na sociedade não ocorrerão com toque de varinha de condão.

Além da filosofia e do comprometimento político outro aspecto de suma importância é a definição da metodologia da escola. Não dá para pensar em PPP sem querer mudar a organização curricular que foi implantada nas nossas escolas desde os tempos de Cabral. Neste sentido, a interdisciplinaridade como princípio filosófico e metodológico pode apontar para um novo direcionamento da escola no seu fazer pedagógico.

Tendo a escola definido sua filosofia e metodologia de ensino os pais, ou responsáveis pelos alunos, não iriam matriculá-los em qualquer instituição, por que “escola publica é tudo igual”.  Mas, pelo fato de que aquela escola atende melhor as expectativas da família em relação à formação humana, intelectual e profissional do seu filho.

Entre tantos outros fatores inerentes a materialização do PPP como a integração escola comunidade, trabalho integrado entre docentes, democratização e a autonomia administrativa, pedagógica e financeira da escola, gostaria de destacar a proposta de formação continuada dos profissionais da educação.

Entendo como profissionais da educação todas as pessoas inseridas no processo educativo: diretor, merendeira, supervisora, zeladora, vigia, secretária, psicóloga, orientadora, auxiliar de secretaria, pais ou responsáveis pelos alunos, os próprios alunos e não somente os professores. Não adianta os diretores e professores discutirem as mais recentes descobertas teóricas no campo educacional se no espaço escolar os demais profissionais continuam sendo tratados com menor importância para o processo de ensino e aprendizagem. A forma como os alunos recebem a merenda das mãos das merendeiras e como são acolhidas pelo guarda na porta de escola lhes ensinam como eles são aceitos, sendo isso mais que uma aula de cidadania sobre direitos iguais.

Primeiro aspecto a ser considerado quanto à formação continuada é o envolvimento de todas as pessoas sem nenhuma forma de segregação profissional. Segundo, pensar a formação vai além que desenvolver na escola programas definidos pelo governo federal, estadual ou municipal.

A implantação desses programas na escola é a negação, a coisificação e a despersonalização dos profissionais da escola enquanto sujeitos pensantes. Se o programa já está pronto e acabado ele não requer nada mais do educador que uma atitude responsiva de aceitação.

A essência do PPP é a autonomia da escola frente as questões que lhe diz respeito. Os educadores precisam sentir desejo e prazer pela formação continuada. Estes e não os tecnocratas de plantão, indicados aos cargos públicos em função dos acordos politiqueiros das últimas eleições, definem quais suas dificuldades, limitações, necessidades e sonhos. Com base nesse diagnóstico, elaboraram uma proposta de formação que melhor lhes aprazem.

Pensarão os tecnocratas: "os professores não tem capacidade de elaborar uma proposta de formação continuada! Nós que passamos pela academia, estudamos as mais complexas teorias educacionais, somente nós sabemos o que a escola precisa, como e quando resolver os seus problemas".

Como o PPP significa antes de tudo quebra de paradigmas, ideias como essas devem ser abolidas. Por um lado, as secretarias de educação necessitam garantir aos educadores, que estão diariamente com os pés no chão da escola, a autonomia de construir o PPP; por outro lado, as educadoras e os educadores não podem abrir mão do direito de construir o projeto de escola dos seus sonhos.

Se o PPP negligenciar essas discussões mais cedo ou mais tarde ele cairá no rol das atividades burocráticas cumpridas pela escola para justificar as demandas governamentais e as verbas que são designadas para comprar isso, quando a escola precisa daquilo.  Se eu estiver errada, a história me remedirá.

 

Avacir Gomes dos Santos Silva
Doutora em Geografia (UFG) e graduada em História e Pedagogia (UNIR)
Professora do Curso de Pedagogia da Universidade Federal de Rondônia
Campus Rolim de Moura
avagsantos@yahoo.com.br