Espaço e Religião: O Candomblé em Goiânia
A cidade de Goiânia, diferentemente de Salvador, São Luís, São Paulo e Rio de Janeiro que contam com uma solidificação (isso não quer dizer que ainda não haja discriminação) tanto na paisagem como também uma maior visibilidade pela sociedade em relação às religiões afro-brasileiras, ainda mantém uma rejeição contra esses segmentos religiosos. Isso pôde ser constatado, na época em que o escultor baiano Tatti Moreno colocou como exposição no Parque Vaca Brava, esculturas que representavam os orixás (deuses afro-brasileiros). Representantes de outros segmentos religiosos (evangélicos) ficaram revoltados com a presença desses símbolos no bosque, chegando até mesmo a exigir das autoridades a retirada deles do local. Esses acontecimentos nos instigam a procurar entender melhor a cultura afro-brasileira dentro do contexto da sociedade goianiense[1].
A Geografia é uma das ciências que tem contribuído bastante para uma análise da cidade e da vida urbana. Em Goiânia, numa perspectiva geográfica não temos pesquisas que abordam estudos culturais da religião de matriz africana em relação ao Candomblé. Diante desse contexto, o Candomblé como religião que vivencia a natureza de forma sagrada, nos instiga a compreender essa relação homem/natureza, numa sociedade onde cada vez mais o ser humano se apropria dos elementos naturais para acumulação do capital.
A cidade de Goiânia reproduzindo a lógica do capitalismo nos últimos 30 anos sofreu uma perda considerável em suas áreas verdes. O crescimento desacelerado da expansão urbana desta cidade, por parte dos governantes e da iniciativa privada – Imobiliárias –, são os principais responsáveis pelo processo da degradação ambiental.
Contrapondo esta lógica, as comunidades de matrizes africanas – Candomblé – têem como princípio a conservação de áreas naturais (matas, rios), mesmo nos espaços urbanos. Estas áreas para a religião do Candomblé são consideradas sagradas e também constituídas como extensão inseparável de outro espaço transformado que se denomina “terreiro” (ponto fixo da religião).
O Candomblé utiliza o espaço urbano nas suas diversas maneiras, como forma de manifestação da sua cultura afro-brasileira. Na cidade essa comunidade religiosa se apropria de outros espaços além do terreiro para cultuar seus orixás. O espaço natural (áreas verdes) é constantemente local utilizado para oferendas e também onde são coletadas as ervas essenciais as cerimônias que acontecem nos terreiros. Outro local seriam as margens dos rios, onde também são realizados rituais por parte desta religião. Esses lugares nas cidades, exteriores aos terreiros se revelam como espaços sagrados indispensáveis para preservação da cultura afro-brasileira.
Em Goiânia o Candomblé é uma religião que reorganiza seus valores absorvendo as novas paisagens nas quais se insere. Infelizmente os saberes produzidos por essa comunidade são estigmatizados devido ao racismo e à intolerância religiosa por parte das religiões cristãs e da sociedade em geral.
José Paulo Teixeira - Geógrafo, mestrando pelo IESA/UFG e integrante do Laboratório de Estudos de Gênero Étnico-Raciais e Espacialidades - LaGENTE.
[1] O fato ocorreu em novembro de 2003 com repercussão em toda sociedade Goianiense.