(MAR)IA GERALDA ENTREGUE AO MAR... – Isis Maria Cunha Lustosa

04/01/2023 22:10

Praia Redonda com sargaço, jangadas e barcos, Icapuí, Nordeste, Ceará, Brasil.

Foto: LUSTOSA. Isis Maria Cunha, ago., 2006.

 

Em Redonda...

A Redonda praia...

Daquele sargaço-mar de Icapuí, no estado do Ceará.

Em 1 de janeiro de 2023, a presença, em memória afetiva, de Maria Geralda de Almeida voltou por lá!

Desta vez, chegou para uma passagem de ano, como cinzas.

Cinzas cuidadas, por 9 meses, com esmero.

MG gestada para outro parto!

O novo parto à espera de Maria Geralda, o da partida, findada, a mineira-nordestina rebatizada em água salgada, na intimidade marítima. 

Para naquele litoral, adorado por ela, ser a mesma entregue ao mar.

Cinzas viajadas, como foi Maria Geralda, em toda a sua jornada de vida geográfica.

Cinzas respeitadas, como se fez a pessoa MG, a mesma geógrafa com abordagem cultural.

A sua despedida, pois, havia de se fazer  como um patrimônio humano cultural, temperado pelo sal, sol e calor humano e das humanidades. 

Maria Geralda, apreciadora de comidas, olhar frequente nas gastronomias, em cinzas, como iguaria, foi ofertada ao Mar de Odoyá.

Cinzas com histórias pessoais, aquelas guardadas em si, e tantas outras partilhadas nos seus contextos coletivos.

Cinzas de parenta apreciada, de amiga adorada, de vizinha-praiana, querida e recordada, de mineira-nordestense com amor incondicional a escala Icapuí, faixa do litoral leste cearense.

Cinzas com conteúdos universais!

Cinzas estudadas, de quem sempre se debruçou no trabalho com leituras, pesquisas, extensões, orientações, produções ousadas, inovadas e particularizadas.

Cinzas adversas ao cinza, gris, dos anos da dita e dura de chumbo.

Cinzas MG que lutou por direitos diferenciados dos sujeitos sociais, nas incansáveis pesquisas, intercâmbios e parcerias realizadas.

Cinzas que ficaram, estrategicamente, bem guardadas.

Estratégica, em pó, permaneceu, como sempre foi Maria Geralda no corpo físico e no seu intelectual.

Sagaz!

Cinzas destampadas, com  consideração, na hora certa.

Por isso, tão referidas cinzas, aguardaram o momento da chegada naquele mar aberto em 2023. 

Muito justo!

Primeiro, porque ali, em Icapuí, Maria Geralda, virou muitos anos em companhias escolhidas. E fez por aquele litoral.

Depois, por merecer ser entregue ao mar no ano em que o Brasil é retomado como país democrático.

Cinzas conduzidas no simbólico relicário sem ostentação estética, mas sim com essência humana, em mãos amigas, e com experiências de um pescador-amigo no trajeto, levadas com candura na embarcação do amigo-praieiro, o Josiel.

Embarcação cearense, navegante na verde-água-marinha, sem pressa na maré, nas águas salsas da Praia da Redonda.

Barco original, como foi, e sempre será a Maria Geralda. 

Embarcação da lida atravessando o mar para o ritual da partida. Em seguida, encontrando as ondas... Bem redondas...

Barco deixando à beira-mar, com olhares vigilantes dos que acompanharam desde a areia, do Josiel condutor do leme, da memória afetiva partícipe em cinzas, e dos afáveis tripulantes, bem como dos demais familiares e amigos observantes desta viagem, desde a praia.

Barco de pescar conduzido com a prática do homem do mar, deslizante na água, na bubuia, para chegar ao ponto de entrega das cinzas de Maria Geralda de Almeida, Geógrafa Cultural, Geraldíssima para uns, Generalda para outros, Georalda na Geografia Humana, MG das Minas Gerais... Dentre tantas outras alcunhas, tendo o mar como o seu cinerário-aberto-comunicante.

Praia Redonda, espraiará cinzas de quem rodou boa parte do mundo e escolheu para o seu lugar de despedida a água cálida da Redonda-Praia.

Maria Geralda, naquele espaço, onde foi, com cuidado, muito bem espraiada, se fez territorialidade.

Mar do Atlântico guarda Maria Geralda, levando-a aos encontros com sua fauna e flora marinha. Parte dela ficará no mar e marés... Outra parte, por ventura, encontrará outras areias. Desembocará MG no seu encontro de mar com rios. O mar a conduzirá, novamente, para os seus íntimos continentes, daquelas suas experientes convivialidades.

Daqui, desta nova paisagem geográfica cearense, com cinzas de Maria Geralda, ficaremos a imaginar, onde estará a MG de Minas e do Mundo, exatamente, agora?

Da Redonda, em memória a ela, Maria Geralda... Sabemos que de lá o seu afetivo de maior sumo, nunca sairá. 

Aquela sua singela e aconchegada casa-mirante, em frente ao mar, situada no alto da Praia  Redonda, toda ela branca, portas e janelas azuladas, será o farol com mira na saudade e na memória afetiva prestadas a Geralda por suas tantas idas e vindas  no litoral de Icapuí.

Tem pegadas descalças de Geralda, naquela enseada que desce Redonda, como desceram por lá as doses culturais das suas apreciadas cachaças.

Redonda de casa com achegas desde o portão..., muitos causos, alegrias, pescados, frutos do mar, prosas, amizades regadas com afagos, e com comidas, bem mais que saborosas.     

Em respeito e em memória, expresso algumas das minhas palavras, da sua ex-orientanda, que se tornou amiga, a PoetIsis.

O meu apreço aos que proporcionaram a afável despedida, com mar e maré, à Professora Maria Geralda de Almeida, compartindo-a no espaço virtual. 

Siga MG, com sua coragem excepcional,  para onde o mundo nos leva, quando deixamos o momento de vida terreno.

Obrigada Professora Maria Augusta Mundim, a Guta, como Geralda a chamava com irmanamento, por haver socializado as imagens e o(s) seu(s) sentimento(s) de ternura e daqueles(as) comprometidos(as) na ritualística do confiável momento. Em uma das fotos recebidas, estás no barco bem emocionada, posicionada ao lado de Josiel. A sua mão esquerda segura com afinco uma flor branca naquele Dia Mundial da Paz. A sua mão direita vai de encontro com a água para cumprir a entrega da Maria Geralda ao mar da Redonda, portanto, aqui expresso um fragmento da sua narrativa: “Fiquei com as cinzas nas mãos cumprimentando abraçando rindo e chorando”, descreve Guta.

Maria Geralda vai com a maré...

Maria Geralda vem com a maré...

(Mar)ia o Mar é...     

 

Brasil, 3 de Brasília com Lula e Mulheres na Luta como foi você MG, e todas nós nos espaços de labutas, de 2023 e seguintes anos. 

Tocaremos, eternizada professora Almeida, como nos for possível, o teu amplo legado.

Com afabilidade, sempre! 

 

Texto e foto:

Profa. Dra. Isis Maria Cunha Lustosa

Pesquisadora Externa - Laboter/IESA/UFG.

Membro dos “Proyectos UBACYT e UBANEX” - UBA/ FFYL - Argentina.

isismclustosa12@gmail.com