O QUE FAZEM COM AS ‘MINAS GERAIS’: rejeitos das barragens – Isis Maria Cunha Lustosa
Foto: Douglas Magno/AFP
O que fazem com as Minas Ger(ais)?
(Mina)m tudo na mineração.
Afloram somente os “ais”, diz Drummond, o mineiro, o poeta, em Lira Itabirana.[i]
(Ger)am dores.
Dissabores irreparáveis.
Os Gerais sot(errado)s.
A l(ama), não ama.
Arruína. Fere. Mata. Enterra.
Não tem jeito!
São re(jeito)s derramados do rebentar das barragens.
Arrastam tantas vidas...
As submergem, e as suas moradas.
Rompem relações humanas antes tão ligadas.
Afogam forçadamente os animais estimados.
E tantos outros seres e espaços do ambiente.
Também, as culturas ali enraizadas.
Absorvem os ‘Gerais’ em segundos, por duas calamitosas vezes, em curto prazo...
Aragem a céu aberto de uns procurando outros(as) na lama da criminosa paisagem.
E os rejeitos descem, crescem os crimes em milhões de metros cúbicos.
E o Rio Paraopeba, e o Velho Chico tão abalado, ambos morrerão como o anterior Rio Doce?
Carecem de ações. Punições. Não, o fato, gravíssimo abafado. Arquivado.
E as indenizações do crime em Mariana?
A mineradora Vale arquivou Bento Rodrigues?
Isso no geral é censurável.
A Vale, que não vale à pena, sabe...
As suas “doações”[ii] não sanam as perdas irreparáveis.
Não são as suas míseras cédulas ‘doces’ dos seus bilhões lucrados...
...que apagam as lembranças infinitamente ‘amargas’.
Mas, a essa Vale, só vale mesmo os seus vales de valores.
Bolsa sobe!
Bolsa desce!
Nós, o ambiente, e tudo mais agora diante do bolso sem futuro, que sufoco!
E a Vale crê, se valer mais uma vez.
A mineradora já se valeu de Mariana... Valei-nos, Nossa Senhora do Carmo, da Vale![iii]
E afundou Bento Rodrigues na sua outra lama.
Rejeita-se como pode para cumprir os direitos dos atingidos...
...de todos os prejudicados pelos seus rejeitos.
Rejeitos nos limites dos crimes anunciados das barragens...
...sem limites nos licenciamentos ambientais aprovados.
Há jeito para esse país de rios amargosos pelos crimes desmedidos?
Muito menos punição!
Estamos no bolso e fosso.
(Bruma)dinho virou resto das ‘Minas’ no mar de lama da impunição. Valei-nos, São Sebastião![iv]
As suas brumas (neblina) não tóxicas no normal.
Agora, tem toxi(cidade) do que sobrou da cidade a aspirar poluição da destruição...
Na localidade Córrego do Feijão a lama não vingará vidas, plantações... Continuidades.
Só germinará as aspirações amargosas do vale cavado pela Vale!
Figura um vale profundo com mais atingidos, desaparecidos que os encontrados.
Ao invés de termos lido “Mariana nunca mais”[v] conforme disse o presidente-diretor da Vale.
Deveríamos ter lido: ‘Nunca em Mariana’. ‘Nunca em Brumadinho’...
E, nunca, rejeito algum sem controle, em lugar nenhum.
Muito menos, por rompimentos de barragens.
Barragens no Brasil do agronegócio, não livrou da lama nem quem vivenciava o seu ócio.
Acorda Brasil sem depender de sirene!
E as Terras Indígenas e Terras Quilombolas? E os outros territórios tradicionais? E as demais áreas protegidas? Todas(os) serão atingidas(os) de modo criminal por outros comandos que promulgam somente os “(AI)S” e violam os seus direitos nacionais e internacionais?
Isis Maria Cunha Lustosa
Doutora e Mestre em Geografia
Pesquisadora Externa do Laboter/IESA/UFG – Brasil.
Membro do “Proyecto UBANEX” – UBA/FFyL – Argentina
[i] Brumadinho: Conheça a história por trás de poema em que Drummond critica a Vale. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/cultura/livros/brumadinho-conheca-historia-por-tras-de-poema-em-que-drummond-critica-vale-23410546>. Acesso em: 29 jan 2019.
[ii] Vale anuncia que vai doar R$ 100 mil a cada família e manter pagamento de impostos para Brumadinho. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/noticia/2019/01/28/vale-anuncia-que-vai-doar-r-100-mil-para-cada-familia-e-manter-pagamento-de-impostos-para-brumadinho.ghtml>. Acesso em: 29 jan 2019.
[iii] Padroeira do município de Mariana.
[iv] Padroeiro de Brumadinho.
[v] Veiculado em distintos meios de comunicação.