PRÁTICA, TEORIA, PRÁTICA: SUPORTES PARA A EDUCAÇÃO NO SÉCULO XXI - Wagner Alceu Dias

01/05/2013 12:00

 

Falar de educação em tempos contemporâneos é compreender o processo de formação das competências humanas, e paralelamente intervir com ações didáticas pedagógicas no contexto de atuação do profissional da educação. Na tentativa de fazer uma leitura crítica da realidade, é possível verificar que há um equívoco quanto a realização da práxis pedagógica, pois o desenvolvimento do conjunto de habilidades até a formação da competência está por regra, estabelecida em reflexões diárias do fazer educação.

Esse comportamento condiz com o desenvolvimento da autonomia do professor, que se especializa constantemente, utilizando-se da pesquisa.O professor pesquisador é aquele que procura ensinar o que está fora dos livros, revistas e currículos, dessa forma, ele sempre estará contribuindo com a educação. Demo (2007).Apostamos na pesquisa como análise da realidade, e a partir de então em sentido dialético, podemos responder ao mundo o que ele indaga.

A escola é uma instituição com incumbência de promover discussões que possam caracterizar como saberes socialmente construídos, na perspectiva de atender as demanda dos problemas sociais que contagiam a cultura juvenil. A escola de hoje tem intensão de formar o cidadão crítico e reflexivo capaz de atuar frente às múltiplas demandas da sociedade. Essa foi uma estampa que teve o papel de amortecer seus objetivos de origem, que nasce no início da revolução burguesa com intuito de preparar mão de obra para o mercado de trabalho, embora essa propositiva ainda é presente pela exacerbação de cursos técnicos disseminados em toda a extensão do território brasileiro.

Para cumprimento do legado, a escola tem como protagonista o estudante, que é orientado pelo professor, condição que configura epistemologicamente o processo de ensino e aprendizagem. Para que o conceito seja verdadeiro, é necessário que sua prática se estabeleça, episódio que merece uma maior reflexão, visto que o comportamento do professor é que determinará a condição de protagonista do estudante.

O estudante traz para sala de aula muitas informações advindas da família, do rádio, TV, internet entre outros. Essas informações são interiorizadas pelos estudantes, cabendo ao professor transformá-las em conhecimento. Dessa forma, o senso comum será o ponto de partida para a acomodação das informações numa estruturação cognitiva. Moretto (2010). Nessa circunstância, o estudante aprenderá a construir seus próprios conceitos a partir de suas experiências de vida, ou seja, aprender pela vida. A abstração fica apenas no campo das ideias, é necessário comportá-las ao cotidiano, significando os conceitos.

O progresso da ciência elevou o conhecimento humano no mais alto nível, como também provocou uma ressignificação da vida social. Ter conhecimento é ter poder. O poder é construído permanentemente pelas relações sociais, que simbolicamente pode ser percebido pelas diferenças e conflitos das habilidades humanas em viver e agir em comum acordo. O poder só pode existir dentro das relações sociais, jamais existindo como propriedade do indivíduo isoladamente. É nessa perspectiva que a comunicação passa a configurar uma orquestra de interesses, capaz de promover a liberdade da consciência ou a prisão dos corpos.

Entretanto, o que sempre marcou a evolução humana foi a palavra, pois ela defini o homem como um ser racional. A comunicação proporcionou ao homem um grande trunfo em suas relações sociais, desenvolvendo seu potencial nas mais variadas formas políticas, econômicas e culturais. Todavia, durante a história, o homem conseguiu acumular experiência pela comunicação, e consequentemente ocorre uma incessante construção de conhecimento.

O conhecimento é construído a partir de uma situação de interação teórica e prática. A teoria é resultado de uma análise da realidade objetiva com a criatividade do pesquisador. A abstração da realidade conduzida pelo propósito da explicação teórica tem como princípio explicar e organizar os problemas do mundo.Teoria significa saber tudo e nada funcionar. Prática é tudo funcionar com desconhecimento pleno das razões.Rummel, (1974). Teoria que não é exercitada não pode ser considerado como teoria, e prática que não retorna às suas origens de criação, não se renova.Demo (1987).Esse envolvimento é o que vamos chamar de construção do conhecimento.

Quando se fala de construção do conhecimento, não falamos de fórmulas universais, mas de atuação condicional, ou seja, de resultados obtidos de qualquer aplicação teórica que aprecie a criatividade do professor na aproximação dos conceitos em relação a realidade. Não podemos nos render ao bombardeio de informações dos diversos meios de comunicação, pois essa atitude nos limita ao não entendimento e compreensão da realidade.

Segundo Kant (1959), a sensibilidade e o entendimento são categorias essenciais para caracterizar o conhecimento. Então, para uma eficiente atuação do professor, é necessário ter um momento particular de planejamento, que deve envolver três etapas fundamentais. Primeiramente, reforçar a formação específica por leituras. O segundo passo, deve circunscrever os preâmbulos da aplicabilidade dos conceitos e teorias abstraídas das pesquisas. O último passo é marcado pelo tempo reflexivo, envolvendo teoria e prática, e a partir de então apontar os avanços e ranços. É importante que após sua intervenção em sala de aula, haja um período para reflexão de seu planejamento, da execução e da observação dos resultados, para então (re)planejar, buscando novas didáticas e metodologias que possam preencher as lacunas das insatisfações.

Certamente, depois de concluir todas as etapas, o professor terá outra concepção a respeito do conteúdo que foi trabalhado. Assim, acredita-se que o caminho da pesquisa trás uma interação dialética entre sujeito e objeto, transformando-os simultaneamente num tempo infinito.

Na contemporaneidade a convicção de atuação do profissional da educação não pode se resumir a simples ideia romântica do prazer e amor em lecionar. Essa postura não responde aos desafios do século XXI. Basta perguntar qual o nosso papel enquanto professor, e logo responderei que deve ser de muita luta, ostentada por uma posição político-ideológica. Souza Neto (2008).

A manutenção do bom profissional da educação ocorre pelo domínio da teoria conjugada à prática. Na concepção do professor pesquisador a teoria é adquirida pela prática da leitura. Ler demasiadamente uma grande quantidade de livro não necessariamente significa ser um bom leitor, capaz de dominar plenamente a teoria. Ser um bom leitor é conseguir contextualizar a leitura no mundo vivido, pois a prática é socialmente construída pelas relações estabelecidas. A prática não esgota a teoria, pois ambas são complementares, sobretudo entendidas como um par dialético. A teoria deve ser complementada pelas diversas versões da realidade, portanto sua realização está intrinsicamente ligado a uma verdade teórica, que ao ser transposta ao contexto do profissional da educação receberá uma carga ideológica, pois qualquer prática é conduzida por decisões políticas.

Exemplo de uma posição política plausível é o uso de livros didáticos, currículos e outros documentos prescritos, que tendem a ser instrumentos que inibem a criatividade e pondera a condição do professor, limitando-o a reproduzir saberes construídos em laboratórios. Libânio (1991). Essa é uma prática considerada medíocre, com tendências a invenções gratuitas de teorias extremamente ditadoras. Apesar das respostas aos estímulos do livro didático ser frequentemente negativos como foi exposto, há de se pensar que o livro didático também é usado como instrumento de pesquisa, capaz de contribuir na construção de uma prática contextualizada. A transposição didática é um metodologia capaz suficientemente de atribuir sentido aos conceitos abstratos trazidos pelos livros didáticos. O caminho para o bom uso do livro didático é passa a teoria que é singular, para a prática plural. Em outras palavras, é exatamente enriquecer a teoria a partir das relações da cada um dos estudantes, seja no campo, na cidade, no trabalho, na sua casa, rua, bairro etc...  

Uma das profissões de maior nível de complexidade, certamente é a docência. Notamos que uma sala de aula pode ser considerada como um ponto de encontro das temporalidades desiguais, uma vez que existem estudantes de distintas classes sociais. Considerando essa discrepância, logo entendemos que os o universo de bem materiais, de acessibilidade, de cultura é relativo entre os estudantes. Portanto, caso o professor lecione em duas salas de aula de mesma disciplina e série, o comportamento didático pedagógico não deverá ser o mesmo. A postura do professor deverá ser adequada ao nível emocional e intelectual das referentes turmas.

Também, junto as diferenças de classes sociais temos o inserção dos avançados aparelhos eletrônicos que teimam a roubar a atenção dos estudantes. O professor se vê em desvantagem na hora de expor sua aula, pois a competição é injusta, uma vez que existem inúmeras situações que trazem vulnerabilidade na hora de proporcionar atenção ao professor. Veja as seguintes situações que roubam a cena do professor: uso de celulares, uso de ipods, uso de tablets, manuseio de notebooks, ouvir música em diskmem entre outros assuntos da vida cotidiana que tendem a fazer parte dos bochichos entre os estudantes.

Em suma, todos os temas - conhecimento, escola, estudante, teoria e prática, professor - que foram enunciados neste pequeno ensaio, sintetiza uma reflexão do mundo objetivo e suas burocráticas forma de existir. A relação de escola/mundo já não é recíproca, visto que a escola não consegue acompanhar as decisões de Cronos – deus do tempo – que acelerou nosso cotidiano sem precedentes. Os direcionamentos educacionais já não são mais os mesmos, pois a força do capital impõe condições do fazer educação. As origens do ensino/aprendizagem são dirigidas pela hegemonia das grandes empresas que necessitam de mão-de-obra suficientemente qualificadas para gerir lucros cada vez mais exorbitantes.

O panorama que presenciamos em dias atuais – 2012 –nos faz crer que a carreira docente no século XXI, é desafiada pelos devaneios da própria ciência, e que nos resta desenvolver ações propositivas para revitalizar o ensino e transformar o atual cenário numa realidade que comporte a lógica recíproca da escola/mundo.

 

Referências

CARVALHO, Maria Inez da Silva de Souza. Fim de século: a escola e a geografia. 3. ed.Unijuí, 2007. 168 p.

DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. 8.ed. Campinas, SP: Autores associados, 2007. 130 p.

________. Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2 ed. São Paulo: Atlas, 1987. 118 p.

KANT, Immanuel. Crítica da razão prática.São Paulo: Brasil Edictora S.A, 1959. 128 p.

LIBÂNIO,José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1991. 261 p.

MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o desenvolvimento d competências. 6 ed. Patrópoles, RJ: Vozes, 2010. 134 p.

RUMMEL, J. Francis. Introdução aos procedimentos de pesquisa em educação. Trad. De Jurema Alcides Cunha. Porto Alegre, Globo, 1974. 354 p.

SOUZA NETO, Manoel Fernandes de. Aulas de geografia e algumas crônicas. 2 edição. Campina Grande: Bagagem, 2008. 109 p.

 

Wagner Alceu Dias

Doutorando pelo Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Geografia do IESA/UFG.

Professor da UEG – Unidade de Formosa no Curso de Geografia.

e-mail: wagneralceudias@msn.com

 

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Ficha bibliográfica:

DIAS, Wagner Alceu. Prática, Teoria, Prática: suportes para a educação no século XXI. In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.3, n 4, 01 de maio de 2013. [ISSN 22380-5525].

 


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