UMA SINGELA HOMENAGEM AO EMINENTE PROFESSOR GEÓGRAFO ARMANDO CORRÊA DA SILVA - Marquessuel Dantas de Souza

30/06/2014 12:00

 

Ao buscar redigir estas poucas linhas ao professor geógrafo Armando Corrêa da Silva, tornar-se complexo expor o básico, por assim dizer, de sua geografia. Considerando o momento em que viveu como estudante e como professor do ensino superior em Geografia, devemos ressaltar que a fase de renovações da Geografia entre os anos de 1970 e 1980. Assim sendo, é necessário contextualizar o momento de sua produção acadêmica para facilitar o entendimento de sua geografia.

Em outros termos, os estudos geográficos no Brasil passaram por uma transformação muito importante quando do seu desenvolvimento como ciência. Foi neste período que se introduziu no Brasil uma reflexão crítica e filosófica no campo da geografia e os personagens que se destacaram neste processo se concentram em torno de nomes como do professor Milton Santos e Armando Corrêa da Silva.

Para tanto, no cerne da própria geografia brasileira começou a surgir tendências epistemológicas outras. Com efeito, Milton Santos conduziu suas análises geográficas desenvolvendo estudos sobre a teoria do Meio-técnico-científico-informacional no auge da globalização nos países considerados periféricos. Neste contexto, o professor Armando Corrêa da Silva também se fez conduzir pelos estudos urbanos e pelos estudos político-econômicos, muito embora desafiando suas abordagens metodológicas que, por sua vez, engendrando uma reflexão filosófica e se preocupando com a ciência geográfica, promovendo assim um estudo rico sobre a ontologia do espaço geográfico - uma questão, diga-se de passagem, pouco discutida na época em questão e principalmente na Geografia.

Esse discurso ontológico do espaço é a pedra angular do pensamento do professor Armando Corrêa da Silva. Considerando o espaço como ‘Ser’, o referido professor geógrafo tratou de entender a essência do espaço para com o homem a fim de mostrar como o homem busca organizá-lo. Grosso modo, ao trabalhar Geografia e Filosofia, Armando tinha em mente o que Eliseu S. Sposito colocou muito bem: Armando Correa da Silva “tinha opinião formada sobre a falta de reflexão filosófica por parte dos geógrafos e se preocupou com a ideia de crise no pensamento geográfico para encaminhar seu pensamento e seus ensinamentos” (sposito, 2008, p. 158). Fora neste momento de renovação e, por assim dizer, de crise na geografia que Armando começou a esboçar a sua ontologia do espaço geográfico que contém, ou envolve o homem por inteiro.

Para Élvio Rodrigues Martins, “há uma Geografia outra (ontológica) nos escritos deste autor”[1]. Não obstante, a geografia tanto de Milton Santos quanto de Armando Silva são de uma riqueza fascinante quando compreendida do ponto de vista da renovação no pensamento geográfico brasileiro que, sem dúvida, podem ser consideradas geografias ou ideias inovadoras, bem como ousadas.

A contribuição de Armando para com a Geografia está presente em alguns de seus escritos, os quais apresentam um impacto lexical de início aos estudantes, principalmente pelos títulos das obras. Alguns dos títulos parecem metáforas e, grosso modo, provocativos. No entanto, são textos magistrais.

Diante o exposto, convém colocar algumas considerações sobre a obra geográfica do professor Armando Corrêa da Silva. Deveras, suas reflexões são inegavelmente uma profunda contribuição para o estudo do espaço na geografia brasileira. Seus apontamentos em algumas ocasiões se apresentam confusos devido o grau de complexidade tratado. Em outros momentos suas anotações são de uma lucidez que tornam-se estranhas para o momento. Essas elucidações levantadas estão, em especial, presentes nas obras O Espaço Fora do Lugar (SILVA, 1978), Cinco Paralelos e Um Meridiano (SILVA, 1979) e De Quem é o Pedaço (SILVA, 1986). Essas obras, especificamente, reúnem, grosso modo, os pensamentos complexos e densos sobre Geografia e Ontologia e a questão do espaço como um diferenciador para o geógrafo trabalhar e desenvolver suas habilidades e aptidões em relação àquilo que o mesmo pretende realizar no espaço geográfico inteiramente singular do ponto de vista das outras ciências. Três obras marcantes e que constituem o momento de renovação nas reflexões geográficas no Brasil e que se somam às obras de Milton Santos Por uma Geografia Nova e A Natureza do Espaço.

Como já referido anteriormente, a década de 1970 e 1980 foram o momento marcante do e no desenvolvimento das novas geografias, não apenas no Brasil, mas no mundo. As três obras de Armando Corrêa citadas acima foram escritas exatamente durante este período. Contudo, em complemento as discussões elaboradas nestas obras, há artigos científicos que podem ser considerados como continuação e/ou complementação ao estudo ontológico efetuado nas referidas obras. Por sua vez, alguns dos quais já na década de 1990 e no ano 2000. - Artigos como Fenomenologia e Geografia (SILVA, 1986); A Aparência, o Ser a Forma de (SILVA, 2000), constituem como uma sequencia do estudo ontológico iniciado por Armando na segunda metade da década de 1970.

Todavia, os textos elaborados por Armando Corrêa da Silva não dizem respeito apenas à questão ontológica. Sua preocupação com o método era outro tema bastante discutido no âmbito da geografia. Como já referido anteriormente, questões sobre epistemologia da Geografia Humana foi um dos temas que o professor Armando dedicou-se plenamente durante sua vida. Entender o espaço exige muito do geógrafo, para isso há pressupostos a serem seguidos, critérios a serem elaborados e método a ser aplicado. Neste sentido, o professor Armando escreveu reflexões para com o modelo de geografia real e concreta como disciplina e de geografia como realidade física. Com efeito, alguns textos surgiram dessas reflexões para com o social da geografia. Doravante, as datas destes textos em específicos variam conforme o momento vivido.

Os livros Geografia e Lugar Social (SILVA, 1991); A Renovação Geográfica no Brasil e Outros Escritos (SILVA, 2001); o texto intitulado Uma proposição teórica em geografia (SILVA, 1976); os artigos intitulados A Subtotalidade: Geografia e Sua Especificidade (SILVA, 1980); Contribuição à critica da crise da geografia (SILVA, 1982); Ontologia Analítica: Teoria e Método (SILVA, 1992), apenas para citar alguns. Estes escritos e outros formam o leque epistemológico desenvolvido por Armando Corrêa da Silva quando de sua dedicada preocupação referente ao estudo da Geografia. Não obstante, juntamente com os escritos ontológicos (referidos anteriormente), todos constituem a epistemologia geográfica “Armandiana”.

Para homenagear merecidamente este geógrafo brasileiro, antes de finalizarmos torna-se interessante fazer uma breve citação a cerca de algumas curiosidades que permeavam a vida deste professor estranho e genial. Para tanto, é interessante observarmos sua singularidade (referindo-se a Armando) e ao mesmo tempo uma inegável pluralidade neste Armando geógrafo-filósofo diante à existência do mundo real e concreto (no sentido fenomenológico). Entrementes, “mais que geógrafo, Armando Corrêa da Silva foi um filósofo que “viveu” a Geografia vindo da Sociologia” (sposito, 2011, p. 117).

Considerando algumas explanações de estudantes da época da graduação (em especial na década de 1990), há comentários de ex-alunos que confirmam exposições do eminente professor Armando executando, vez ou outra, uma peça de música erudita no pátio do departamento de Geografia em pleno horário de aula. Pois segundo os comentários, havia um piano disponível e o professor Armando sempre mostrava aos alunos que a música se propaga no espaço. Eis a razão de evocar os sons melodiosamente. Bem entendido, notadamente se percebe que Armando não se restringia apenas à geografia, o mesmo se envolvia com outros saberes. Por sua vez, o saber geográfico-filosófico era o essencial para o entendimento do mundo tão vasto.

Logo após esta simples homenagem ao eminente professor geógrafo Armando Corrêa da Silva, convém dizer que por mais sucinto ou mais prolixo que este texto seja, a proposta fora exatamente evocar o nome deste profissional e lembrar suas contribuições para a geografia brasileira. Além disso, como nos diz Sposito: este “personagem continua sendo uma incógnita no pensamento geográfico por sua ousadia, sua simplicidade e sua negação dos cânones da academia” (sposito, 2011, p. 119).

 

Referências

SILVA, Armando Corrêa da. Uma proposição teórica em geografia. São Paulo: Instituto de Geografia da USP, 1976. 16p.

SILVA, Armando Corrêa da. O Espaço Fora do Lugar. São Paulo: Hicitec, 1978. 128p.

SILVA, Armando Corrêa da. Cinco Paralelos e Um Meriadiano: contribuição ao Discurso Geográfico Teórico. São Paulo: Instituto de Geografia da USP, 1979. 150p.

SILVA, Armando Corrêa da. A Subtotalidade Geografia e Sua Especificidade. Anais do 4º Encontro Nacional dos Geógrafos, AGB, Rio de Janeiro, 1980.

SILVA, Armando Corrêa da. Contribuição à crítica da crise da geografia. In: SANTOS, Milton (Org.). Novos Rumos da Geografia Brasileira. São Paulo: Hucitec, 1982.

SILVA, Armando Corrêa da. Fenomenologia e Geografia. In. Orientação. Instituto de Geografia – Departamento de Geografia. São Paulo - USP, nº 7, pp. 53-56, 1986.

SILVA, Armando Corrêa da. De Quem é o Pedaço? (Espaço e Cultura). São Paulo: Hucitec, 1986. 168p.

SILVA, Armando Corrêa da. Geografia e Lugar Social. São Paulo: Contexto, 1991. 144p.

SILVA, Armando Corrêa da. Ontologia Analítica: Teoria e Método. In: Terra Livre - Geografia, Territótio e Tecnologia, AGB. São Paulo: Marco Zero, nº 9, p. 129-133, 1992.

SILVA, Armando Corrêa da. Renovação Geográfica no Brasil e Outros Escritos. São Paulo: Hucitec, 1994.

SILVA, Armando Corrêa da. A Aparência, o Ser e a Forma (Geografia e Método). In: Geographia, Niterói, Ano II, nº 3, p. 07-25, 2000.

SPOSITO, Eliseo Savério. Armando Corrêa da Silva. In: Formação. Faculdades de Ciências e Tecnologias. Presidente Prudente - UNESP, nº 15, v. 2, pp. 158-160, 2008. Especial 20 anos.

SPOSITO, Eliseo Savério.  Por Armando Corrêa da Silva: em busca do futuro do pretérito. In: GeoAtos – Geografia em Atos. Departamento de Geografia da FCT/UNESP. Presidente Prudente, nº 11, v. 2, pp. 110-119, 2011.

 

Marquessuel Dantas de Souza

Graduado em Geografia pela Faculdades Tereza Martin (FATEMA) – São Paulo- SP.

Estudante do Grupo de Pesquisa Geografia, Literatura e Arte (Geoliterart) da USP.

marquessuelgf@gmail.com

 



[1] Referindo-se ao professor Armando Corrêa da Silva - MARTINS, Élvio Rodrigues. Anotações de aula. Ontologia e Epistemologia em Geografia. FFLCH/DEGEO-USP, 2013. 

 

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Ficha bibliográfica:
 
SOUZA, Marquessuel Dantas de. Uma singela homenagem ao eminente professor geógrafo Armando Corrêa da Silva. In: Territorial - Caderno Eletrônico de Textos, Vol.4, n.6, 30 de junho de 2014. [ISSN 22380-5525].