UNIVERSIDADES? - Valney Dias Rigonato
30/08/2012 12:00
Ao ler o livro “Conversas sobre Educação”, de Rubem Alves, me lembrei de quando cheguei na universidade. Sonhei e interroguei: o que fazer? Como seria o ensino e o aprendizado nela? Cheguei a pensar que era uma escola grande. Despreparo. Encantamento. Utopias. Desses sentimentos continuou o sonho, o que aprendi nela e com ela e o que continuo a sonhar dentro dela(s).
Para Rubem Alves “a universidade existe só para ajudar os homens a transformarem os desertos em jardins”. Afinal, os jardins do Cerrado, da Amazônia, da Caatinga e da Mata Atlântica estão sendo transformados em desertos. Em síntese, precisa-se na(s) universidade(s) ensinar a cultivar os jardins da cidadania.
Portanto, “o que está em jogo é a sobrevivência individual de cada um”. A esse respeito, o autor foi emblemático: “é uma coisa muito pequena”. E, acrescenta: “É tolice ser um profissional competente se o barco em que se navega está afundando. A competência tem de ser maior, muito maior...”(p.75). Dessa forma, pode-se dizer o nosso sonho na universidade precisa transcender o nosso umbigo para alcançar um sonho coletivo. Ou melhor, um outro sonho de mundo e sociedade.
Assim, o aprendizado, o ensino, a pesquisa e a própria universidade “só tem sentido como ferramenta para o plantio e cultivo do jardim”. Isto é: “Saber por saber é desumano”.
Então, faça da universidade um oásis do saber. Um saber sociável. Um saber humanitário. Um saber que possa transformar sua condição de sujeito (a)sujeitado em cidadão pleno. Faça amor com a universidade “não faça apenas sexo, pois ele pode ser passageiro”. Faça amor com a biblioteca, com os laboratórios, com as pesquisas, com os educadores, pois, como os filósofos, eles são amantes da sabedoria. Ou melhor, estude, aproveite das coisas (in)úteis da universidade e da vida.
Aprenda a viver com e na universidade. Afinal, nós estamos na arena. Nesta arena a informação é a arma. O conhecimento é poder. E, poder se faz através da fala, do debate, da escrita e das vivências. Seja um(a) gladiador(a) do conhecimento no século XXI e não simplesmente um colecionar de qualis da CAPES. Sonhe. Viva e deixe ser vivido pela universidade. Mas, qual universidade?
A universidade da vida!
Valney Dias Rigonato
Professor do Curso de Geografia da UFBA/ICADS.
rigonatogeo@gmail.com
Nota
Texto escrito em 16/09/2009 para dialogar com os estudantes da disciplina “História do Pensamento Geográfico” do curso de Geografia da UCG. (Re)lido na noite de 20/08/2012 neste momento de greve das universidades públicas o qual veio na memoria e tomei (só agora) a coragem de sociabilizar com os colegas de profissão e interlocutores deste Caderno Eletrônico de Textos.