VARAL - Lorranne Gomes da Silva

20/08/2012 12:00

 

O nada tem sentido fora do acaso da metrópole.
Ruas balançam incansavelmente...
Movimentos paralelos, espaços silenciosos.
No ponto, o mundo.
Pessoas, grupos, povos, culturas, sujeitos... Misturam-se.
Guardam seus animais, feras domésticas adestradas.
Parece um pássaro gigante... Helicópteros.
Pipas voadoras.
Vai e vem e tudo é muito estático em movimentos constantes.
Pisam nos pés, esbarram-se do outro lado.
Ombros e nem olhares quase não se cruzam.
Mendigos reunidos esperam o almoço,
Enquanto suas roupas secam nos varais da praça.
De onde vem a comida, não sabem.
Sentem frio mais preferem o calor.
As cobertas voam!
O orvalho pode ser visto como plumas cinzas.
Coloridas paisagens enlouquecidas.
Atropelo de palavras quentes, mórbidas...
Os rios, os córregos, as praias, pensam.
Conhecimento ou sabedoria, sorrisos infantis...
Desculpe, por favor, obrigado!
Cala, vira, corre...
Crianças choram, mães choram, pássaros choram.
Senhoras comem pastéis de bacalhau no mercado municipal.
O beijo toca o muro dormente.
Marcas sangram dos prédios assassinos e apaixonados.
A lua brilha e muda de tamanho. 
A fumaça descolori o arco-íris.
Índios, brancos, negros, caboclos, burgueses, pobres, metropolitanos, ciganos.
Duelo de raças, credos, tribos, etnias, sonhos...
Tradição e modernidade se confundem.
Luzes ofuscantes, horizontais, verticais, subterrâneas...
O trem e o metrô voam... O ônibus não alcança os horários previstos e nos pés calos aparecem.
Vermelho, amarelo, verde. Pare.
Becos, cortiços, favelas, aldeias, cadeias, condomínios, shopping, feiras, dança de rua, bordéis, avenidas, ruas,bares, praças, festas, movimentos...
Senzalas a céu aberto.
Uma brisa ousada toca os ouvidos.
O “rappa”!!!!! Corre, corre, abaixe e vá ... 
Os ladrões, os assassinos, os padres, as crianças, os sorrisos, as belezas, as estranhezas, os gurus, os pajés, o destino, o acaso, o real e concreto, o abstrato, a vida.
Sombras pálidas e deitadas na areia cobrem o mar.
Lembranças de saudade de um mar que molha os sonhos.
Estátuas humanas sustentam o mercado informal.
Ao lado, a cidade dos mortos.
Onde vive a salvação da alma, protegida por cerca elétrica.
Ratos, roedores, museus, teatros, músicas, liras...
Fome da fome e fome.
Fumaças de cigarros e cheiro de prostituição.
Resistência, stress, fadigas, vícios e doenças.
Questões, questionamentos evidenciados pelo por quê.
Uma cadeira na ponta do pé.
Pichação, droga, sexo, velocidade, adrenalina. Não sou eu. Quem é você?
Momentos eternizados por rachaduras gelatinosas.
Buracos na língua, desenhos na pele, silicones, moda, estilos.
Liberdades sexuais, repressões simplórias e preconceito invisível.
O dinheiro e as novas receitas de viver.
Os varais das praças representam vidas.
Folhas caem, sem data, nem tempo.
No chão, esperam algo, mas o vento vem e voam... e  levam, levam, para o infinito que não conseguimos alcançar.
 
 
Lorranne Gomes da Silva
lorrannegomes@gmail.com